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Espeleomergulho


Texto: Pedro Ivo Arriegas

Publicado em: Trogle Nº5 (Maio de 2007)

No espeleomergulho convergem duas áreas de conhecimento, uma encruzilhada onde alguns espeleólogos e mergulhadores se encontram. É uma actividade de risco onde a margem para erro é curta e que sendo na teoria fascinante para muitos, acaba na prática por ser executada apenas por alguns.

Eu cheguei vindo do lado do mergulho, área onde sou experiente e instrutor. O meu interesse pelo mergulho em gruta nasceu há mais de uma dezena de anos, ao observar as magníficas imagens dos cenotes da Península do Yucatán. Por inerência o chamamento da espeleologia a seco também se foi fazendo ouvir e desde aí tenho continuado a evoluir no espeleomergulho.

Em Portugal as cavidades onde se pode realmente mergulhar são escassas, incluindo as já clássicas Almonda, Alviela, Anços e Pena. Na generalidade dos casos, quando nos deparamos com galerias submersas estas resumem-se a pequenos sifões, muitas vezes longínquos, atapetados por argila e preenchidos por água acastanhada e fria, para onde é preciso carregar em peso o material de mergulho! Aos olhos do mergulhador o cenário apresenta-se sombrio e contrasta com os coloridos postais ilustrados mexicanos.

Assim o mergulhador candidato a imergir em cavidades deverá estar munido de muita persistência e também de um suplementar interesse em espeleologia, já que para se ser um espeleomergulhador em território nacional se torna essencial a aprendizagem de ambas as “ciências”.

Já para o espeleólogo nacional o percurso é o inverso. Bom conhecedor do ambiente de gruta, sabendo inter- pretar a linguagem da cavidade, habituado à escuridão, ao esforço físico e à lama, o problema é submergir (para além de um significativo investimento financeiro). A sensatez obriga a que se comece da forma mais simples, fácil e barata: como mergulhador recreativo. Depois é importante continuar a mergulhar com regularidade, de modo a adquirir os automatismos e a consolidar a experiência, prosseguindo ainda a formação, adquirindo o equipamento adequado e aumentando a capacidade técnica individual.

O ensino do espeleomergulho em Portugal debatesse também com a escassez das cavidades mergulháveis, mas sobretudo com o tipo de cavidades que impossibilita que a formação prática possa ser ministrada da maneira mais desejável, de uma forma mais gradual. Faltam sobretudo cavidades mais amigáveis, com águas mais transparentes, onde se possa vislumbrar uma réstia de luz solar ou, em caso de necessidade, aceder à superfície da água, livre e respirável.

Assim se explica a opção tomada recentemente dos cursos de espeleomergulho possuírem uma extensão para outras paragens onde essas condições ocorram, para que somente na fase final dos cursos é que haja contacto com as cavidades mais difíceis e os ambientes mais hostis, numa lógica de aprendizagem progressiva.

Também em termos de exploração pura, em Portugal, o que é fácil já está feito. O que está por fazer ou está longe ou então é de elevada exigência técnica. Sendo verdade, não deve ser esta a razão para afastar os potenciais interessados no espeleomergulho (é tempo de, nesta como noutras actividades, deixarmos de nos circunscrever ao pequeno rectângulo nacional e olharmos para lá das fronteiras em busca de áreas onde muito está por fazer). Existem outras razões dissuasoras bastante mais sérias: a evolução no espeleomergulho é lenta e o percurso é longo, sinuoso e armadilhado. É, apesar de todas as precauções, técnicas, equipamento e treino, perigoso e, em potência, mortal, não deixando contudo de ser extremamente aliciante.

Uma nota final: se algo neste texto vos sugeriu um convite, desenganem-se. São apenas constatações.

Fotos: Gilles Carmine, João Gaspar - Yucatán / México


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