Expedição subaquática na gruta do Almonda
Texto: SIC (por Carla Castelo)
Foto: Pedro Santos
Elementos do grupo de mergulhadores XploraSub e do Núcleo de Espeleologia da Universidade de Aveiro (NEUA) estão a realizar uma campanha de exploração na gruta da nascente do Almonda, concelho de Torres Novas. O objectivo é mapear as galerias subaquáticas integradas no maior sistema cársico de Portugal.
A campanha estava a ser preparada há cerca de um mês e meio. Entre mergulhadores e pessoal de apoio de superfície, estão envolvidas 13 pessoas. Antes de cada mergulho realiza-se uma curta reunião, em que são definidas as tarefas de cada mergulhador e se relembram procedimentos de segurança e emergência.
Devidamente equipados com fatos de mergulho, capacetes, garrafas com gás respirável e computadores de mergulho, os mergulhadores saltam para a água.
Jorge Russo, de apoio à superfície, anota a hora de entrada, a duração e a hora de saída prevista. Se o mergulho se prolongar demasiado além do previsto, é preciso accionar mecanismos de socorro.
“Passar pelo buraco de uma agulha”
A entrada da gruta é um buraco estreito, por onde os mergulhadores têm de passar primeiro os pés e só depois o resto do corpo. Lá dentro, cada equipa de dois inicia a tarefa atribuída.
Ao terceiro dia, Pedro Ivo e Manuel Leotte do Xplorasub descem aos 78 metros de profundidade na galeria Norte para continuarem a topografia.
Um mergulho exigente que requer muita experiência e planeamento, mesmo para quem já desceu a 150 metros de profundidade em mar aberto. "Numa gruta temos um tecto real, além dos patamares de descompressão, daí ser mais stressante e necessitarmos de mais concentração para fazer um mergulho destes", explica Manuel Leotte.
O trabalho dos mergulhadores é feito num meio hostil, em completa dependência de sistemas de suporte de vida. Além da extensão e complexidade da cavidade, o espaço é restrito, não há acesso directo à superfície e a visibilidade é limitada pelos sedimentos que se levantam.
Munidos de lanternas, fita métrica, bússola e uma placa de anotações, os mergulhadores recolhem os dados que hão-de introduzir no computador, no final do dia.
O estudo das áreas submersas da gruta teve o primeiro grande impulso nos anos 80, com as explorações lideradas por João Neves e Christian Thomas, que descobriram e topografaram novas galerias. A partir daí, os trabalhos de exploração perderam regularidade, sobretudo devido à obstrução da entrada da nascente pelo desprendimento de blocos de rocha da falésia.
Em 2007, elementos do NEUA, do Xplorasub e de outros grupos juntaram-se para desobstruir a entrada da nascente e conseguiram-no com "a ajuda de balões de elevação" mas também "houve muita pedra retirada à mão", conta Pedro Ivo.
A abertura e estabilização da passagem permitiram então reiniciar o processo de equipagem da gruta, ou seja, a colocação de fio que permite a orientação no interior, e a sua topografia subaquática. Um trabalho que querem publicar logo que esteja concluído para que fique acessível ao público em geral.
Carla Castelo, Jornalista SIC