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Quer afinar o seu peso? Pergunte-me como.


Texto: Pedro Ivo Arriegas

Publicado em: DecoStop Nº2 (Outubro de 2004)

Como afinar a lastragem, contribuindo para um bom controle de flutuabilidade e um incremento da segurança e do conforto.

Já todos vimos mergulhadores ajoelhados, lavrando o fundo, tentando esforçadamente erguer-se nas águas. Também já observámos mergulhadores escalando com afinco um cabo de subida. Ou outros esperançados na possibilidade da descida, ainda que vazassem o colete e expirassem em fúria. Ou mesmo alguns trespassando a superfície das águas, quais mísseis estratégicos.

Já vimos tudo isto apenas devido a um deficiente controle de flutuabilidade, mas a verdade é que desde o curso básico de mergulho que treinamos as técnicas para esse controle e que nos é transmitida a noção da flutuabilidade neutra e da sua importância no prazer que se retira da imponderabilidade, no domínio da deslocação e na redução da energia dispendida (e por consequência, do gás consumido).

A flutuabilidade do mergulhador consiste na relação entre o peso do mergulhador e do seu equipamento – força no sentido descendente, e a impulsão devida ao volume de água deslocado pelos corpos em imersão – força no sentido ascendente. Por facilidade, geralmente entende-se como possuindo flutuabilidade positiva um corpo que sofre uma impulsão superior ao seu peso (o corpo flutua), ou negativa se o seu peso é maior que a impulsão (o corpo afunda-se). Se essa forças se equivalem temos então flutuabilidade neutra (o corpo nem flutua, nem se afunda: paira).

O uso generalizado de lastro deve-se a que a impulsão sofrida por um mergulhador equipado é usualmente superior ao seu peso (sem esse lastro) e assim, para conseguir atingir a almejada flutuabilidade neutra, o mergulhador sujeita-se a transportar durante o mergulho placas, blocos ou grãos de um material de alta densidade (i.e. de peso significativo e baixo volume, logo com impulsão reduzida): o chumbo.

Todavia, para complicar, a flutuabilidade tem a prodigiosa capacidade de se modificar ao longo de uma imersão por variação do volume de espaços gasosos não rígidos (designadamente devido ao ciclo respiratório: inspiração/expiração*), por alteração da profundidade (por exemplo através da compressão das bolhas gasosas do neoprene de um fato seco, húmido ou semi-seco**) ou ainda por variação da pressão ambiente e acção do mergulhador (volumes do colete de controle de flutuabilidade e do interior do fato seco).

A flutuabilidade pode ainda alterar-se por adição de peso (imaginem que o mergulhador colocou umas pedras nos bolsos do colete ou tenta ascender com uma âncora) ou pela sua diminuição (perda de lastro ou de equipamento com flutuabilidade negativa).

Contudo mais importante, pela sua inevitabilidade, é a perda do peso do gás entretanto consumido. Não tendo ocorrido outras alterações de peso, a altura em que o mergulhador estará “mais leve” será no final do mergulho. Se duvidam, pesem uma garrafa de 12 litros a 220 bar e depois a 60 bar e confiram a diferença. É esse o peso do gás que foi gasto.

A flutuabilidade das garrafas, devido à variedade de materiais, espessuras e volumes, é de mais difícil avaliação. Experimentem mergulhar com duas garrafas com volume interno de 15 litros, pesando cada uma 22.5 kg ou 16.0 kg e sintam a diferença.

Sabendo a densidade da liga metálica pode ser calculada a flutuabilidade da garrafa, mas é mais simples mergulhar a garrafa na água (com a torneira fechada, por favor!) e com um dinamómetro “pesar” a garrafa. Se a garrafa flutuar, adicionem-se umas malhas de chumbo calibradas e repita-se a pesagem.

Ficar-se-á assim com uma ideia do peso aparente da garrafa em água doce. Lembrem-se que em água salgada a fluabilidade é maior, pois o meio é mais denso. Para garrafas com flutuabilidade positiva, com frequência fabricadas em liga de alumínio, pode ser reduzida a flutuabilidade adicionando lastro moldado especificamente para o efeito.

No entanto para uma aferição da flutuabilidade do mergulhador equipado, nada melhor do que estar a 3 metros com as garrafas de fundo a 30 bar (é no final que se está mais leve e é quando é necessário cumprir patamares…) e ir variando o lastro até que seja possível uma amplitude respiratória confortável, conseguindo sempre regressar aos 3 metros.

Algum equipamento de elevada densidade pode servir como substituto de lastro, mas é vital que este equipamento esteja conectado ao mergulhador de forma permanente, caso dos reguladores, baterias de lanternas ou eventual back-plate (sobretudo se em inox). Contudo, atenção à forma como este equipamento é conjugado com o lastro, nomeadamente em termos de equilíbrio lateral e vertical.

A flutuabilidade do mergulhador é também influenciada por equipamento acessório, caso de garrafas e reguladores de descompressão, carretos ou um capacete com lanternas. Todavia este equipamento, por existir a possibilidade de ter de ser libertado ou por ocorrer uma perda, não deve contribuir para a aferição da flutuabilidade.

Como podem agora perceber, um mergulhador técnico precisa – dada a grande quantidade de gás transportado, o peso de equipamento acessório e o lastro necessário para contrariar uma muito inconveniente perda massiva de gás – designadamente no início do mergulho, de um colete com volume suficiente para o sustentar.

Se o problema fôr o oposto, ou seja insuficiência de lastro no final do mergulho, então a solução pode consistir em lastro colocado no cabo de subida ou, melhor ainda, um mergulhador de apoio que nessa eventualidade entregará lastro adicional ao mergulhador de fundo.

O lastro, granulado ou em blocos, que o mergulhador transporta pode ser colocado em diversos locais do corpo e do equipamento, mas de uma forma geral é posto ao redor da cintura. Integrado, se em bolsas do colete de controle de flutuabilidade, ou não integrado, isto é colocado no tradicional cinto do genuíno homem-rã.

O lastro integrado, especialmente quando o carrego é grande, tem a vantagem de forçar menos as costas do mergulhador. Uma desvantagem, quando o mergulhador não é dono de uma cintura de apreciável dimensão, é que a precinta ventral do colete pode revelar-se exígua para outras bolsas (máscara secundária, bóia de patamar, etc., etc.). Outra é se é preciso retirar o escafandro, embora isto não se faça todos os dias.

Uma outra solução é usar um arnês. Como o peso se distribui pelos ombros, também se poupa a costeleta. Atente-se, todavia, à compatibilidade com o arnês da asa.

Também podem ser presos ao colete, geralmente entre a asa e o mergulhador, cilindros de chumbo granulado, conhecidos na gíria como trim weights. Colocados mais acima ou abaixo, auxiliam o mergulhador a adoptar a posição desejada durante o mergulho, mais horizontal ou vertical. Podem ainda ser postos somente de um dos lados, por exemplo, contrabalançando uma bateria de lanterna e contribuindo para um equilíbrio lateral.

Também a colocação das garrafas de fundo, mais subidas ou mais descidas, tem significativa influência no equilíbrio vertical do mergulhador.

Alguns mergulhadores de fato seco usam lastro nos tornozelos, para que algum ar que fuja para as pernas ou pés seja de mais fácil controle. Se o fato-seco possuir espaço que baste, então pode ser preferível pôr este lastro por dentro do fato: menos um ponto de prisão, menos possibilidade de perda de lastro.

Um atavismo comum nos cursos de mergulho é a extrema importância concedida à rápida libertação do lastro. Agora, na era do colete e de outras fontes redundantes de flutuabilidade, mais importante que a facilidade de libertação é que não ocorra uma perda inadvertida do lastro, sob risco do mergulhador ser empurrado em aceleração no sentido da superfície, com todos os problemas daí decorrentes.

A libertação deve poder ser eficazmente executada quando conveniente (por regra, já à superfície) e de forma controlada, através de um qualquer mecanismo que exija ao mergulhador uma acção deliberada. Note-se que o lastro não descartável (equipamento denso permanente, lastro de tornozelos, trim-weights, lastro de garrafas, etc.), não deve exceder o que pode ser libertado.

Dadas as variáveis que influenciam a flutuabilidade do mergulhador, uma boa estratégia para gerir a lastragem é elaborar uma tabela, onde se pode ir anotando, afinando e corrigindo o lastro necessário para diferentes ambientes e equipamentos. Um exemplo:


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